Ainda prestes a se apresentar para um período de treinamentos da Seleção Brasileira na Granja Comary, em Teresópolis (RJ), Maurine Dornelles Gonçalves atendeu ao telefonema do Final Sports no Rio de Janeiro. Apesar de gaúcha, é no centro do país que a jogadora de futebol passa a maior parte do tempo. Ou em férias, ou defendo uma camisa, como fez desde 2008, quando atuou pelo Santos.
Gaúcha de Rio Grande, ela ganhou grande destaque no Pan-Americano de Guadalajara, no México, em 2011. Permaneceu com o grupo após a morte de seu pai, Assis Brasil Dorneles Gonçalves, e marcou o gol que levou o Brasil para a final da competição, como forma de homenagem.
Há 11 anos já na luta, Maurine começou sua carreira no time do coração, o Grêmio. Aos 15 anos, cumpriu um caminho que depois também seria feito pelo meia Anderson, hoje no Manchester United: do bairro Rubem Berta para as dependências do clube tricolor. Ela brinca que faria uma boa dupla com Mário Fernandes - neste caso, jogaria pela esquerda.
“Jogava na rua, com os meninos e tudo mais. Mas comecei os fundamentos e tudo mais na escolinha do Grêmio, entrei por meio do meu pai. A partir dali subi para os profissionais já com 15 anos. Jogava contra os adultos e tudo mais. Sempre tive apoio da minha e do meu pai, mas mais do meu pai. Foi sempre ele que me apoiou e me incentivou. Ele sabia que eu gostava muito, me levava e me buscava nos treinamentos”, contou.
A relação entre Maurine e o pai era próxima. Grande incentivador da lateral-direita, o progenitor jogava na várzea e dava diversas dicas para a filha. O assunto era o que mais aparecia na relação.
Com 15 anos, Maurine partiu para São Paulo. Foi tentar a vida no futebol e o início se deu no Araraquara. Depois, rodou também pelo São Paulo. A seguir, passou pelo Cepe Caxias até chegar no Santos, onde o grande estouro de fato aconteceu.
“Na verdade essa exposição foi mais no Santos. Comecei indo para a Seleção desde o Grêmio. Mas no principal no começo do Cepe, mas começaram muito a conhecer a Maurine no Santos mesmo”, disse.
Foi no clube paulista que às vezes camisa 20, às vezes 99, conquistou mais títulos: levou a Copa do Brasil de 2008 e 2009, a Copa Paulista de 2009 e a Libertadores de 2009 e 2010. Com o currículo recheado, é uma das expoentes da renovação na Seleção Brasileira. Por isso, ela lamenta tanto a saída do Santos do mercado de futebol feminino. O presidente Luís Álvaro Oliveira Ribeiro anunciou em janeiro o fechamento da equipe e também do futsal.
“Foi o clube que mais deu visibilidade aqui no Brasil. O time do Santos tinha mídia. Tinha alguns jogos que passaram na televisão, e isso era muito bom para nós. A gente fica triste como atleta. Era um time que sempre deu força para o futebol feminino, sempre apoiou. Quando achamos que estamos evoluindo, voltamos para a estaca zero. O Santos era um time que todo mundo tinha um apoio. Agora terminou, espero que todo mundo encontre time. Espero que eles possam voltar, parece que a Dilma queria ajudar eles”, reclamou.
Atualmente com a Seleção Brasileira, para um período de treinos na Granja Comary, Maurine ainda não sabe qual será seu futuro. A lateral tem uma proposta do Vasco da Gama, mas só dará a resposta após o dia 30 de janeiro, data que as atividades se encerram no Rio de Janeiro. O seu último clube foi o New York Flashes (EUA).
“Pretendo jogar aqui no Brasil. Estou pensando na Seleção por enquanto. Só depois que voltar eu vou pensar no time que vou jogar. O Vasco falou comigo, mas não vou dar a resposta agora”, disse.
Hoje em dia, há uma classe de mulheres que se ligam apenas em jogadores de futebol: as Maria-Chuteira. Com a visibilidade que o futebol feminino ganha no Brasil ao longo dos anos, o 'João-Chuteira' também começa a ganhar espaço. A gaúcha, considerada uma das musas da Seleção pela torcida, trata com o assédio de forma natural.
"Agora que estamos conhecidas, tem um assédio. Não é que nem o masculino, mas tem o reconhecimento do pessoal. Sou uma pessoa tranquila, acho legal e gratificante, é reconhecimento do nosso trabalho. É muito importante para nós isso", destacou.
- Seleção inicia preparação e muda planejamento para 2012
O grande objetivo de 2012 na carreira da gaúcha é a medalha olímpica. O ouro escorrega dos dedos brasileiros há duas edições. Em 2008, em Pequim, voltamos com a medalha de prata após derrota na final para os Estados Unidos, como em 2004, em Atenas. Entre ambas, há ainda o vice no Mundial de 2007.
Maurine se entusiasma com as possibilidades em Londres. Segundo ela, a preparação será mais forte do que em anos anteriores: serão apresentações mensais para que o técnico Jorge Barcellos comande as garotas em treinamentos.
“Provavelmente vai ter convocação todo o mês. A gente espera que possamos consertar tudo o que fizemos de errado nas competições que passaram. Queremos chegar em Londres e conseguir essa medalha inédita”, confiou.
A ansiedade de entrar em campo com a camisa verde e amarela é visível. Acompanhada das craques Marta, Cristiane e companhia, Maurine espera que a novidade nos treinamentos ajude na hora de trazer a medalha.
“Já começou mudando, que vamos cada mês ser convocadas. Já era diferente de antes. Treinava uma vez e voltava não sei quantos dias depois. O grupo unido vai estar. Falta nós chegarmos lá e jogarmos o futebol, mesmo”, disso.
A jogadora tratou de lembrar que no Brasil, o início das meninas no futebol se dá tarde, geralmente depois dos 15 anos. Fora do país, as garotas são recrutadas em universidades e escolas e tem condições para se desenvolver no esporte.
- Estrutura fora do país: "Não tem como comparar"
Potências no esporte, como Estados Unidos, Alemanha e mais recentemente Japão contam com certa inveja de Maurine. Suas estruturas para atletas que estão começando ou mesmo as já profissionais recebem elogios da lateral brasileira. Mesmo o Santos, time melhor organizado do Brasil até fechar as portas, não chegava nem perto do que é visto fora do país.
“Não tem comparação. O futebol feminino fora do Brasil é evoluído, tem estrutura, totalmente diferente. O Santos tinha estrutura muito boa, mas lá fora é fora de brincadeira, os estádios, campos, é profissional mesmo. O Santos era o melhor do Brasil, que mais tinha apoio, mas não chegava perto de lá, não dá para comparar. Não chega perto”, comentou.
Muito se fala em diferenças no estilo de jogo em competições como Campeonato Brasileiro e Libertadores. No feminino, acontece a mesma coisa. Campeã e participante em vários tipos de jogo, Maurine relata o jogo duro que o Brasil encara em disputa com polos mais fortes no esporte.
“Lá fora o jogo é muito mais corrido, muito mais rápido. Aqui é habilidade. Lá são tabelas, toca e aparece e recebe na frente. Aqui é mais o drible, partir para cima. Eles não são disso. É um estilo parecido com o Barcelona lá. As meninas fora tem muito corpo, aqui você já usa a habilidade, é totalmente diferente”, explicou.
A Olimpíada inicia dia 27 de julho, mas o futebol tem início previsto para o dia 25, e vai até o dia 15 de agosto. O Brasil disputa em março amistosos contra Estados Unidos e Japão, no país nipônico, e França e Portugal, ainda sem data definida.
Fonte: http://www.finalsports.com.br
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